Friday, September 15, 2017

OS TRANSTORNOS DE APRENDIZAGEM SE ASSOCIAM A CAUSAS GENÉTICAS E AMBIENTAIS ESPECÍFICAS?

A chamada “medicalização do ensino” é muito criticada. Mas a verdade é que as crianças e jovens com transtornos de aprendizagem apresentam uma morbidade médica elevada. As doenças mais prevalentes na infância e adolescência, tais como asma, diabete, enxaqueca, epilepsia rolândica, lesões focais pré- e perinatais previamente não-reconhecidas se associam a dificuldades de aprendizagem. O risco de associação de transtornos de aprendizagem com essas doenças sugere a necessidade de uma investigação médica, principalmente neurológica mas também genética, em muitas crianças com dificuldades de aprendizagem escolar.

O avanço das técnicas de genética molecular está mostrando também que muitas crianças com transtornos de aprendizagem apresentam síndromes genéticas previamente não reconhecidas. A variabilidade  fenotípica das síndromes genéticas é muito grande. A probabilidade de diagnóstico é maior quando a criança apresenta deficiência intelectual e/ou alguma malformação mais grave que requeira tratamento cirúrgico.

Se a criança não apresenta deficiência intelectual associada a probabilidade de diagnóstico é menor e as dificuldades podem se manifestar apenas quando a criança entra na escola e começa a apresentar dificuldades.

De  um modo em geral, as síndromes de Klinefelter, Noonan e distrofia muscular progressiva tipo Duchenne etc. apresentam um perfil de maior comprometimento da linguagem oral e/ou dislexia. As dificuldades de aprendizagem de matemática fazem parte do fenótipo cognitivo da síndrome de Turner, síndrome do sítio frágil no cromossoma X (FMR1) em meninias, síndrome velocardiofacial (Del22q11.2), síndrome de Williams etc. A Figura 1 ilustra uma dissociação entre a síndrome de Klinefelter (com diminuição do QI verbal) e a síndrome de Turner (com diminuição do QI de execução).

Figura 1 – Dupla-dissociação entre QI verbal comprometido na síndrome de Klinefelter e QI de execução comprometido na síndrome de Turner. QI determinado através do WPPSI aos 4/5 anos de idade e comparado com o dos irmãos (Pennington et al., 1982).

Muito freqüentes são também as seqüelas do efeito do uso de bebidas alcoólicas durante a gravidades. A síndrome e os efeitos fetais alcoólicos podem se manifestar como deficiência intelectual e  hiperatividade. Nos casos mais graves ocorre um transtorno misto de aprendizagem da leitura/escrita e aritmética.

Não há evidências indicativas de que todas as crianças dificuldades de aprendizagem escolar precisem ser encaminhadas para  uma avaliação médica, neurológica ou genética. Mas o refinamento das técnicas diagnósticas tem contribuído para identificar uma contribuição crescente de etiologias específicas, médicas e ambientais, para os transtornos de aprendizagem. Precisamos desenvolver critérios que nos auxiliem a identificar as crianças que precisam ser encaminhadas para uma avaliação médica.


REFERÊNCIA

Pennington, B. F., Bender, B., Puck, M., Salbenblatt, J., & Robinson, A. (1982). Learning disabilities in children with sex chromosome anomalies. Child Development, 53, 1182-1192.

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