Sunday, June 11, 2017

NEM A SUPER TEACHER DÁ CONTA

Um grande contingente de alunos não gosta da escola.  A evasão escolar foi identificada como umimportante fator de risco para a criminalidade. Qual é o papel das professoras na aversão e fracasso escolar?

Aqui vou defender o lado das professoras. Grande parte das dificuldades atuais se origina do fato de que as demandas às professoras só aumentaram nos últimos anos, sem que houvesse uma formação correspondente. A coisa toda começa pela definição da missão da escola. O pensamento politicamente correto pressupõe que os objetivos da escola não se restringer a ensinar, mas são mais amplos, compreendendo a educação do cidadão de forma mais ampla. Ao invés de apenas transmitir conhecimento de uma geração para outra, a missão da escola deveria ser o desenvolvimento da capacidade de pensamento crítico.

Isso é muito bonito na teoria. Na prática a coisa é bem diferente. Atualmente a escola não dá conta nem de ensinar o básico, ou seja, a ler as palavras, compreender um texto e fazer as contas. Com é possível desenvolver o pensamento crítico se o aluno não consegue compreender o que lê?

Teoricamente, a aprendizagem pela descoberta e colaboração, em situações contextualizadas de resolução de problemas relevantes para a criança é enfatizada. A ênfase se desvia da memorização de conhecimento para o processo de construção social do conhecimento. A descoberta e interação socialmente contextualizada deveriam estimular a autonomia e curiosidade do aluno. Novamente, isso só funciona na teoria. Na prática, a falta de vocabulário, ou seja de conhecimento memorizado de mundo, é um dos principais obstáculos a compreensão leitora pelas crianças pobres.

Conceber a missão da escola como educação e não apenas como ensino coloca demandas às professoras que são estranhas à sua formação e à capacidade de processamento e atuação humanos. Vejam o caso da inclusão. A partir de uma estimativa conservadora, pode-se esperar que a prevalência de necessidades especiais na população escolar situe-se em torno de 10% a 20%. Isso significa que em uma classe de 30 alunos a professora precisará atender em torno de seis alunos de inclusão: com dislexia, discalculia, TDAH, deficiência intelectual, autismo etc. Isso sem falar nas dificuldades visuais, auditivas, ansiedade, transtornos de conduta etc.

O sistema educacional fornece algum tipo de suporte para as professoras, com o intuito de subsidiá-las na consecução dessa nobre missão? Nenhum. Nadica de pitibiribas. As crianças de inclusão são jogadas nas salas de aula e a professora que se vire. Sem qualquer tipo de apoio, supervisão ou formação adequada.

E o que é pior ainda, a formação das professoras é inadequada. A orientação epistemológica da formação das professoras passa longe do método científico, da pesquisa quantitativa, do teste de hipóteses, da psicologia cognitiva e comportamental, das neurociências etc. A formação das professoras é politicamente enviesada e anti-científica. Quando a professora cai no mundo real da sala de aula, ela experimenta uma dissonância cognitiva brutal,  que evoluiu para o total desamparao. A professora percebe que não recebeu uma formação adequada para enfrentar os desafios que lhe são impostos. As professoras precisam então sair correndo atrás de cursos de aperfeiçoamento e especialização, na tentativa de suprir as lacunas da sua formação.

Mas não podemos esquecer do contexto social em que a escola funciona. É crescente o número de famílias desestruturadas e disfuncionais. A missão de educar as crianças é dever e direito da família. O papel da escola é complementar. A missão da escola não é substituir a família. Pedir isso das professoras é demais. Nem a Super Teacher dá conta. Talvez fosse mais vantajoso fazer uma downsizing do papel da escola, enfantizando mais o ensino de habilidades básicas e deixando um pouco de lado objetivos louváveis e ambiciosos, porém inatingíveis. O fracasso na consecução dos objetivos propostos é um agravane do desamparo, desmotivação e revolta. 


No comments:

Post a Comment