Wednesday, February 08, 2017

COMPÊNDIO DE TESTES NEUROPSICOLÓGICOS

Está saíndo do forno mais um livro editado pela equipe do Laboratório de Neuropsicologia do Desenvolvimento da UFMG (LND-UFMG).


O Compêndio de testes neuropsicológicos apresenta as bases conceituais e metodológicas de um conjunto de tarefas neuropsicológicas avaliando atenção, memória e funções executivas, que pode ser aplicado da idade escolar à terceira idade.

O livro tem um caráter do tipo “do it by yourself”. Ou seja, a maioria dos testes discutidos é de domínio público e os estímulos são de muito fácil confecção caseira. Esse livro reflete, de certa forma, a minha experiência há mais de vinte anos, voltando do doutorado para o Brasil e precisando montar uma bateria de testes que fosse versátil e grátis. As soluções que encontramos são apresentadas nessa obra. Um apêndice apresenta indicações bibliográficas para os principais referenciais normativos desses instrumentos no Brasil.

O título é uma homenagem ao Compendium of neuropsychological tests de Spreen e Strauss, o qual nos ajudou a montar essa bateria, bem como a toda uma geração de neuropsicologia brasileiros que começaram do nada.

Alguns dos testes discutidos são o teste de nove pinos, teste de fluência verbal, teste dos cinco pontos de fluência de desenhos, teste de aprendizagem auditivo-verbal de Rey, figura complexa de Rey, teste de alcance de dígitos, teste de cubos de Corsi, teste de Stroop Victoria, teste das trilas. Além disso serão discutidos dois testes comercialmente disponíveis, o Teste dos Cinco Dígitos e o teste d2.


Acreditamos que esse livro cumpre sua finalidade de apresentar ao público leitor em português um conjunto de tarefas neuropsicológicas extremamente flexível, quase multi-uso e muito custo-eficiente. Nunca deixa de me impressionar a quantidade de informação neuropsicológica que é possível obter com procedimentos tão simples.

Além dos testes, nós discutimos  alguns aspectos relacionados ao seu uso na prática clínica. Escrevemos capítulos sobre a neuropsicometria e sobre a confecção do relatório neuropsicológico. Além disso, eu escrevi dois capítulos que me deram muita alegria. O primeiro deles é sobre a “ilusão dos números”, ou seja, sobre os percalços que o neuropsicólogo enfrenta na aplicação e interpretação dos testes. Argumento que o diagnóstico neuropsicológico tem um caráter qualitativo, de natureza categorial, que não se deixa apreender apenas pelos escores nos testes. Os testes são uma tentativa honesta dos neuropsicólogos de aumentar a validade e fidedignidade das suas medidas. Mas o diagnóstico depende fundamentalmente de um processo interpretativo, baseado em amplos conhecimentos de correlação anátomo-clinica, modelos cognitivos dos processos mentais, desenvolvimento humano, psicopatologia e epidemiologia clinica dos transtornos neurológicos e psiquiátrico.

 
 
No segundo capítulo que escrevi, procuro delinear as cem máximas da anamnese neuropsicológica, destilando meus mais de quarenta anos de experiência na área. O pessoal fala em medicina que 99% do diagnóstico é feito pela anamnese. Não sei se isso é verdade. Pode ser 99,7% ou 95%. Ninguém mediu ao certo. Mas a anamnese é importante. É pela anamnese que são levantadas as hipóteses localizatórias, cognitivas e psicopatológicas que serão testadas pelas tarefas neuropsicológicas. Teste quer dizer justamente teste de hipótese. O diagnóstico neuropsicológico não se reduz a um procedimento mecânico de aplicação de testes e conferência de escores em referenciais normativos. Diagnosticar significa testar hipóteses diagnósticos. Os testes são apenas um instrumento para isso. Um meio importante, mas não uma finalidade.

Estamos todos entusiasmados com o futuro lançamento do livro e com o belíssimo trabalho feito pela editora Hogrefe. Tenho certeza de que vocês vão gostar muito desse livro. Não perdem por esperar.

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